quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Para o Caio

Um casal. Ele confuso, ela feliz. 
Ele diz: porque é bom, por que me ama, porque me ama porque é bom, porque é bom porque me ama, ou porque me ama e é bom?
 Ela responde: Eu gosto porque você me surpreende sempre. E é bom demais ser surpreendida. E como eu amo ser surpreendida, logo, te amo. Fácil e simples.
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Participação: Caio Borba.
Colunista do Seis que sabem - Jornal Extra

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eudeimonismo

Deus não permita que eu morra antes de entender algumas coisas da vida. Uma delas é a infelicidade. Não entra na minha cabeça a necessidade que as pessoas tem de serem infelizes. Infelicidade é uma coisa tão triste. Tenho pena de quem não é feliz. Tenho certeza que cada ser humano encontra na vida, pelo menos, um caminho até a felicidade. Seja ele chance, uma oportunidade, um objeto, uma pessoa, um animal - seja lá o que for, sempre há.  É tão fácil ser feliz que as pessoas tem medo disso. Preferem preencher o vazio de suas vidas, com os problemas da vida dos outros. Não acredito que viver (não por amor; isso é outra história) a vida de alguém possa trazer felicidade. Viver a vida de outra pessoa te faz não enxergar sua beleza própria, natural nem os amores que tem pra viver, muito menos perceber os sorrisos que tem para dar e receber.  Citando o mestre, "a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional."  Acho que a maioria das pessoas gosta mesmo de sofrer. Há tanta coisa no mundo que pode te deixar feliz. Não pretendo que este seja um texto de auto-ajuda, é apenas uma reflexão, para explicar a minha conclusão. Você só precisa de um requisito para ser feliz: estar vivo. Com essa condição, você está apto para ser feliz pra sempre. Basta que você esteja disposto a isso.
O ser humano tem uma mania péssima de querer controlar o tempo, quando na verdade, o tempo é quem controla o ser humano. Cada coisa tem o seu momento certo e saber esperar é uma virtude.
Acho que o meu cachorro é que é feliz. Cachorros aprontam, quebram, lambem, comem, e sujam exatamente o que não devem. Sua memória curtinha os favorece, uma vez que mesmo brigando com eles, em cinco minutos, já esqueceram o que fizeram e que foram recriminados também. Percebe-se isso pela maneira como abanam os rabinhos, como se nos dissessem que rancor não está com nada e ser feliz está na moda. A felicidade não está relacionada à idade, sexo, gênero ou cor.  Cada ser humano é o anfitrião da sua própria festa e não deve ficar se preocupando se os outros estão se divertindo.
 É um clichê, mas não deixa de ser verdade, se hoje a sua vida é ventania, o mesmo vento que bagunça, é o vento que traz calmaria.


Felicidade - Marcelo Jeneci

 
eudemonismo ou eudaimonismo (do grego eudaimonia, "felicidade") é uma doutrina segundo a qual a felicidade é o objetivo da vida humana. A felicidade não se opõe à razão mas é a sua finalidade natural. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Valsa dos sentimentos

Ela se sentiu no Outono em plena primavera.  Aos poucos o peso da cobrança foi se esvaindo à medida que as folhas das árvores tocavam o chão.  Ainda que  a nuvem negra que pairara sobre ela nos últimos meses ainda estivesse por perto, naquele momento ela se sentia bem. Tinha saído de casa apenas para espairecer, ver a rua, as pessoas na rua. Buscava de volta a cor da sua vida. Ultimamente era tudo tão cinza, cinza cor de dor.  Pelo andar atordoado e desajeitado, era como se sua vida andasse sobre dois pés esquerdos. Seus pensamentos eram amargos e pra ela a vida tinha um sabor triste. Mas naquele dia, naquele momento, a vida fez sentido. Saiu de casa sozinha, com apenas as chaves no bolso. Sem maquiagem por fora ou por dentro. Sentia saudade de se sentir bem. Sentia saudade de ser feliz. Batia no peito um coração angustiado, infeliz, magoado e de mal com o mundo. Mundo este que tornou-se duro com ela. Mesmo com tanta gente ao redor, família e amigos, por tempos a solidão foi sua única companhia. Evitava pensar sobre si mesma.  Os erros, os acertos, as mentiras e suas verdades, pessoas, medos e desejos. Foi sempre o que mundo quis que ela fosse. Boa filha, aluna aplicada, inteligente, esperta, dona de uma beleza dupla. Aparentemente, uma vida normal, uma vida perfeita. Mas algo não deixava se sentir completa. Olhando pro céu, sentiu o vento dançar em volta dela, fazendo os cachos bagunçados revelarem uma valsa linda. Sua cabeça estava muito distante dali. O rosto enrubesceu e sorriso começou a se esboçar quando permitiu pela primeira vez pensar sobre a peça que faltava no seu quebra-cabeça. Tentava enganar a si mesma fingindo não saber o que faltava, mas no fundo, sabia muito bem o que era. Havia sido acidentalmente flechada pelo estúpido cupido.  Entretanto, esse não era de fato o problema. Amar nunca é problema. O problema é quem se ama. E ela sabia  que seu amor era deveras problemático. Não no estilo Romeu e Julieta, um amor proibido entre homem e mulher, tampouco um esteriótipo do Ghost, um amor além da vida. Não sabia o que era aquilo, não sabia o que era se sentir daquele jeito. Uma atração diferente, um calor estranho, um desejo desconhecido. Fez questão de guardar para si mesma. Não teve coragem de assumir. Teve medo de viver aquela paixão, receio de se entregar de uma vez. Teve medo do que o mundo ia pensar. E a confusão de pensamentos a desgastou por muito tempo. Não há dor pior que o amor.  Por um segundo, deixou rolar pelos olhos tudo que estava lhe fazendo mal. Deixou o coração falar pela primeira vez. Aos poucos a respiração ofegante deu lugar a uma tranquilidade que ela desconhecia. Uma energia positiva invadiu todo o seu corpo, dando-lhe a sensação de felicidade. Naquele segundo decidiu encarar a vida. Lembrou-se da alegria que aquele amor lhe dera. Quis viver de novo, e de novo e de novo. Ela podia viver aquilo. Era dona do próprio nariz, responsável pelos próprios atos e sentimentos. Então, a chuva levou o pôr do sol e pôs a noite sobre a cabeça da menina. Cada gota que caía lhe inspirava a seguir seus instintos. Aquilo, de fato não era errado, errado era guardar um sentimento tão bonito. Encheu o peito de coragem. Foi em frente. Decidiu escrever por suas próprias mãos o seu destino.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tancredismo

    Meu corpo anda mais fechado para o mundo do que nunca. Falta vontade de viver, paciência pra responder as perguntas inúteis que a vida insiste em me fazer. Enjoei do mundo e de toda a hipocrisia dele. Das pessoas em volta, da pressão que elas fazem. Enxergo a vida com os meus próprios olhos e me recuso a varrer toda sua sujeira para debaixo do meu tapete. Deixei de acreditar na alegria da vida quando percebi que tenho que ser só mais uma. Você não pode ter pensamentos próprios, você não tem liberdade de expressão, não pode dizer nem ir a onde quiser.  Só gostam de você se você diz o que querem ouvir, se você faz sem resmungar o que mandam, se obedece todas as regres e perde toda a diversão. A maior mentira da sociedade brasileira é dizer, e acreditar, que a ditadura acabou. Mentira, calúnia e todos seus sinônimos. Passamos a respeitar chefes que nem conhecemos, a seguir leis que não concordamos, a engolir em seco a vida sem questionar o porquê. Essa submissão não é pra mim.
 Estar vivo se tornou banalidade, mero requisito pra morrer e efemeridade do tempo dói, e caso a rebeldia seja a saída, vida longa aos anarquistas.
Somos cerca de sete bilhões de pessoas vivendo em solidão, amargurando nossas almas em cativeiros próprios perambulando pelo destino esperando pelo dia certo, aguardando a vez na fila da morte. Eu não quero isso, eu não quero assim. Eu não vou suportar mais um segundo assim.
Quero os lugares desconhecidos, os amores proibidos, os venenos mais fortes. Quero tudo que não pode. Quero saber por que não pode.  O não pelo não me consome, faz doer meus músculos no mais literal sentido. Cansa estar amarrada o tempo inteiro. A liberdade é o meu combustível e eu não sei sobreviver de outra maneira. Preciso me expressar, dizer o que penso, gritar meus sentimentos, mas como fazer isso se a censura me impede? Hoje o nosso Ato Institucional Número Cinco é comandado pela mídia.
Se a condição de existência estiver submetida a uma rede de enganações, de falsas sensações de felicidade, de sonhos irreais, eu não quero mais continuar em frente.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Intriga da oposição

Hoje você é a bossa nova.
E eu a tropicalia
Hoje eu sou o romantismo.
E você o realismo.
Hoje você vive de objetivos
E eu só quero sonhar.
Você sai cedo, antes do Rei Sol.
Eu rolo na cama até cansar de enrolar.
Sua vida é amarga e azeda.
E eu gosto do gosto da minha.
Leve sabor de amor misturado com saudade.
Eu vivo da vontade de viver.
De amor.
De sonhos.
De utopia.
Eu sou do Iluminismo, da Era da Razão.
Te mostro meu surrealismo.
Você me contra-ataca com o seu determinismo enjoativo.
São tantas as diferenças que eu ficaria noites enumerando.
Mas basta apenas uma semelhança para nos unir.
Semelhança essa que ainda não encontramos.
Estamos em épocas diferentes.
Quem sabe ainda não seja a nossa hora.

Obra do pintor frânces  Francis Picabia - uma importante mudança cronológica: a morte do Dadaísmo, que, no início dos anos 1920, abriu caminho para o Surrealismo