sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Valsa dos sentimentos

Ela se sentiu no Outono em plena primavera.  Aos poucos o peso da cobrança foi se esvaindo à medida que as folhas das árvores tocavam o chão.  Ainda que  a nuvem negra que pairara sobre ela nos últimos meses ainda estivesse por perto, naquele momento ela se sentia bem. Tinha saído de casa apenas para espairecer, ver a rua, as pessoas na rua. Buscava de volta a cor da sua vida. Ultimamente era tudo tão cinza, cinza cor de dor.  Pelo andar atordoado e desajeitado, era como se sua vida andasse sobre dois pés esquerdos. Seus pensamentos eram amargos e pra ela a vida tinha um sabor triste. Mas naquele dia, naquele momento, a vida fez sentido. Saiu de casa sozinha, com apenas as chaves no bolso. Sem maquiagem por fora ou por dentro. Sentia saudade de se sentir bem. Sentia saudade de ser feliz. Batia no peito um coração angustiado, infeliz, magoado e de mal com o mundo. Mundo este que tornou-se duro com ela. Mesmo com tanta gente ao redor, família e amigos, por tempos a solidão foi sua única companhia. Evitava pensar sobre si mesma.  Os erros, os acertos, as mentiras e suas verdades, pessoas, medos e desejos. Foi sempre o que mundo quis que ela fosse. Boa filha, aluna aplicada, inteligente, esperta, dona de uma beleza dupla. Aparentemente, uma vida normal, uma vida perfeita. Mas algo não deixava se sentir completa. Olhando pro céu, sentiu o vento dançar em volta dela, fazendo os cachos bagunçados revelarem uma valsa linda. Sua cabeça estava muito distante dali. O rosto enrubesceu e sorriso começou a se esboçar quando permitiu pela primeira vez pensar sobre a peça que faltava no seu quebra-cabeça. Tentava enganar a si mesma fingindo não saber o que faltava, mas no fundo, sabia muito bem o que era. Havia sido acidentalmente flechada pelo estúpido cupido.  Entretanto, esse não era de fato o problema. Amar nunca é problema. O problema é quem se ama. E ela sabia  que seu amor era deveras problemático. Não no estilo Romeu e Julieta, um amor proibido entre homem e mulher, tampouco um esteriótipo do Ghost, um amor além da vida. Não sabia o que era aquilo, não sabia o que era se sentir daquele jeito. Uma atração diferente, um calor estranho, um desejo desconhecido. Fez questão de guardar para si mesma. Não teve coragem de assumir. Teve medo de viver aquela paixão, receio de se entregar de uma vez. Teve medo do que o mundo ia pensar. E a confusão de pensamentos a desgastou por muito tempo. Não há dor pior que o amor.  Por um segundo, deixou rolar pelos olhos tudo que estava lhe fazendo mal. Deixou o coração falar pela primeira vez. Aos poucos a respiração ofegante deu lugar a uma tranquilidade que ela desconhecia. Uma energia positiva invadiu todo o seu corpo, dando-lhe a sensação de felicidade. Naquele segundo decidiu encarar a vida. Lembrou-se da alegria que aquele amor lhe dera. Quis viver de novo, e de novo e de novo. Ela podia viver aquilo. Era dona do próprio nariz, responsável pelos próprios atos e sentimentos. Então, a chuva levou o pôr do sol e pôs a noite sobre a cabeça da menina. Cada gota que caía lhe inspirava a seguir seus instintos. Aquilo, de fato não era errado, errado era guardar um sentimento tão bonito. Encheu o peito de coragem. Foi em frente. Decidiu escrever por suas próprias mãos o seu destino.

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