Ao contrário da adolescência e juventude da maioria dos nossos pais, nós não temos uma geração memorável como a deles. A época da boa música, dos bailes inundados de alegria e diversão. Nascemos numa fase de transição entre o ótimo e o lixo, no auge da tecnologia. Uma era em que ser famoso não requer esforço, talento e nem merecimento. Basta uma câmera e conexão com a Internet. Nós, os filhos dos anos noventa, nascemos sem o gene da noção e consciência, os poucos e felizes são os que, por mutações, ainda o tem. Achamos graça de qualquer besteira, vendemos nosso pensamento por tão pouco, substituímos coisas boas por qualquer coisa, engolimos a seco o que a mídia nos impõe e achamos normal o estado de alienação em que estamos. E o pior: temos o dom do conformismo. Somos incapazes de fazer algo para mudar isso.
O que mudou da época em que pais amarravam os filhos rebeldes aos pés da cama foi apenas a forma de se amarrar e ser amarrado. Hoje não precisamos que eles façam isso com cordas e lençóis. Nós mesmos nos prendemos a elas, com os cabos e fios de nossas tecnologias e nos rendemos ao ridículo. Somos reizinhos e rainhas, que reclamamos de barriga cheia sobre as "injustiças" à que somos submetidos. Por um lado, falamos mal das cotas, temos autopiedade por estamos sendo "prejudicados" mas não pensamos nos que não tem a nossa condição e que serão favorecidos por elas e terão a chance de melhorar de vida. Entretanto, já que há tanta discórdia sobre o assunto, o mínimo que deveríamos fazer, já que pensamos assim, era irmos às ruas reivindicar. Mas dá trabalho e cansa. Melhor deixar pra lá. Reclamamos do atual governo mas votamos exatamente nos mesmos candidatos. Elegemos as mesmas antas por serem apenas o que conhecemos. Não entendemos nada de política, achamos legal rir do horário eleitoral, não exercemos nossa militância e muito menos nos interessamos por isso. Somos reféns da nossa própria ignorância. Preferimos ficar embaixo do nosso teto de vidro, jogando pedra no telhado dos outros.
A modernidade é essencial ao homem, isso não se pode negar. A transição da arte veio com o tempo e qualquer forma de expressão deve ser considerada. Porém, critérios hão de existir. Critérios esses que nossa geração faz questão de ignorar e aplaudimos qualquer porcaria que nos é imposta. A música brasileira de hoje não tem mais o mesmo valor. o Brasil não fabrica mais pintores, escritores e poetas, artistas em geral, como em séculos passados. Ser bom ator hoje, é estar na Globo. Boa música é aquela que gruda no ouvido da nação com um refrão sem sentido e melodia barata. Quadros belos são as fotos "photoshopadas" das revistas da moda.. Nossas festas só são divertidas se forem regadas à alcool e drogas. Nossa mente é tão limitada que pensamos estar nos divertido apenas se estivemos chapados. A minha geração é omissa com os seus deveres e indisposta com os seus direitos. É uma geração virtual, produto dos meios de comunicação, submissa das redes sociais, viciada em porcarias.
É preciso resgatar o espírito dos velhos tempos, a alegria de viver apenas por se estar vivo. Do que adianta toda essa riqueza se não sabemos dividí-la? Se não temos com quem compartilhá-la? O fim do mundo não virá com terremotos nem tsunamis ou chuvas terríveis, o isolamento e esquecimento do mundo real é o pior fim que a humanidade pode ter.
Brilhante, Luiza. Bate um desespero quando paro pra refletir sobre isso - e até postei algumas vezes sobre -, e, mais ainda, quando percebo que quase ninguém se importa. Ou pior, quase ninguém enxerga isso.
O que me faz ter esperança é ver que ainda existe gente como você. É, sim, cada vez mais raro de se achar, mas espero que isso mude.
Brilhante, Luiza. Bate um desespero quando paro pra refletir sobre isso - e até postei algumas vezes sobre -, e, mais ainda, quando percebo que quase ninguém se importa. Ou pior, quase ninguém enxerga isso.
ResponderExcluirO que me faz ter esperança é ver que ainda existe gente como você. É, sim, cada vez mais raro de se achar, mas espero que isso mude.