quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Geração Noventa e Pouco

       Ao contrário da adolescência e juventude da maioria dos nossos pais, nós não temos uma geração memorável como a deles. A época da boa música, dos bailes inundados de alegria e diversão. Nascemos numa fase de transição entre o ótimo e o lixo, no auge da tecnologia. Uma era em que  ser famoso não requer esforço, talento e nem merecimento. Basta uma câmera e conexão com a Internet.  Nós, os filhos dos anos noventa, nascemos sem o gene da noção e consciência, os  poucos e felizes são os que, por mutações, ainda o tem. Achamos graça de qualquer besteira, vendemos nosso pensamento por tão pouco, substituímos coisas boas por qualquer coisa,  engolimos a seco o que a mídia nos impõe e achamos normal o estado de alienação em que estamos. E o pior: temos o dom do conformismo. Somos incapazes de fazer algo para mudar isso.
       
         O que mudou da época em que pais amarravam os filhos rebeldes aos pés da cama foi apenas a forma  de se  amarrar e ser amarrado. Hoje não precisamos que eles façam isso com cordas e lençóis. Nós mesmos nos prendemos a elas, com os cabos e fios de nossas tecnologias e nos rendemos ao ridículo. Somos reizinhos e rainhas, que reclamamos de barriga cheia sobre as "injustiças" à que somos submetidos. Por um lado, falamos mal das cotas, temos autopiedade por estamos sendo "prejudicados" mas não pensamos nos que não tem a nossa condição e que serão favorecidos por elas e terão a chance de melhorar de vida. Entretanto, já que há tanta discórdia sobre o assunto, o mínimo que deveríamos fazer, já que pensamos assim, era irmos às ruas reivindicar. Mas dá trabalho e cansa. Melhor deixar pra lá. Reclamamos do atual governo mas votamos exatamente nos mesmos candidatos. Elegemos as mesmas antas por serem apenas o que conhecemos. Não entendemos nada de política, achamos legal rir do horário eleitoral, não exercemos nossa militância e muito menos nos interessamos por isso. Somos reféns da nossa própria ignorância. Preferimos ficar embaixo do nosso teto de vidro, jogando pedra no telhado dos outros.
        
         A modernidade é essencial ao homem, isso não se pode negar. A transição da arte veio com o tempo e qualquer forma de expressão deve ser considerada. Porém, critérios hão de existir. Critérios esses que nossa geração faz questão de ignorar e aplaudimos qualquer porcaria que nos é imposta. A música brasileira de hoje não tem mais o mesmo valor. o Brasil não fabrica mais pintores, escritores e poetas, artistas em geral, como em séculos passados. Ser bom ator hoje, é estar na Globo. Boa música é aquela que gruda no ouvido da nação com um refrão sem sentido e melodia barata. Quadros belos são as fotos "photoshopadas" das revistas da moda.. Nossas festas só são divertidas se forem regadas à alcool e drogas. Nossa mente é tão limitada que pensamos estar nos divertido apenas se estivemos chapados.  A minha geração é omissa com os seus deveres e indisposta  com os seus direitos. É uma geração virtual, produto dos meios de comunicação, submissa das redes sociais, viciada em porcarias. 
É preciso resgatar o espírito dos velhos tempos, a alegria de viver apenas por se estar vivo. Do que adianta toda essa riqueza se não sabemos dividí-la? Se não temos com quem compartilhá-la? O fim do mundo não virá com terremotos nem tsunamis ou chuvas terríveis, o isolamento e esquecimento do mundo real é o pior fim que a humanidade pode ter.


Um comentário:

  1. Brilhante, Luiza. Bate um desespero quando paro pra refletir sobre isso - e até postei algumas vezes sobre -, e, mais ainda, quando percebo que quase ninguém se importa. Ou pior, quase ninguém enxerga isso.

    O que me faz ter esperança é ver que ainda existe gente como você. É, sim, cada vez mais raro de se achar, mas espero que isso mude.

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