sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mais um Zé

5062010

Texto baseado numa imagem do livro Cidadão de papel.

Um corpo pequeno e franzino. Aparência triste. Rosto fino e abatido. Não aparenta ter a idade que realmente tem. A rotina desgastante de vender doces no sinal de uma movimentada avenida de São Paulo faz de seu Zé de Aristides mais um corpo se movendo nas tristes verdades em que se encontram muitos brasileiros menos afortunados . Sua magreza assusta. Vê-se claramente que não é por fazer regime e sim, pela falta de ter o que comer.

Ainda está escuro quando seu Zé sai de casa. No fundo de seus olhos, percebem-se características raras nos dias de hoje. Coragem e determinação para seguir em frente. Mas, no coração, bate a triste sensação de não saber o que vai acontecer, o medo do destino e a aflição da possibilidade de não voltar para casa. Ele deixa para trás a mulher e os filhos. E vai para a rua em busca de melhores condições de vida.

Mesmo sem saber ler, seu Zé carrega no pescoço uma placa que diz que está desempregado e que precisa de uma oportunidade. A tentativa é importante, mas no olhar do restante da população, aquilo não passa de uma coleira, o que mostra mais ainda a incredulidade e o egoísmo do povo, que passa por ele e o trata feito bicho, por causa de sua condição e aparência. Mas é desse jeito que seu Zé segue a vida, sempre em busca de novas oportunidades, até que sejam tomadas as atitudes corretas.

Arriscar a vida entre os carros, submeter-se à humilhação pública não faz dele o pior ser humano do mundo. Mas também não faz daqueles que não passam por isso, pessoas melhores que ele. E é isso que seu Zé de Aristides leva em conta na hora em que bate o desespero e a vontade de desistir.

Mas ele é brasileiro. E não desiste nunca.

Luiza M.

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